Diferença entre a antiga e a nova Rota da Seda: Comércio, cultura e intercâmbio na Antiguidade
A antiga Rota da Seda (ou rede da Rota da Seda) não era uma rota única e linear, mas sim uma complexa rede de rotas comerciais que ligava a China (especialmente a cidade de Chang’an / atual Xi’an) à Ásia Central, Ásia Menor, Médio Oriente e Europa.
- Rotas e cidades importantes: Rota principal: de Chang’an para oeste através da bacia de Gansu, ao longo do norte ou sul do deserto de Taklamakan, passando por Kashgar, depois pela Ásia Central (por exemplo, Samarcanda, Bucara, Kokand) e continuando pela Pérsia até ao Mediterrâneo.
- Ramos importantes eram ao norte da cordilheira Tian Shan, por exemplo, pelo sul do Cazaquistão e ao sul ao longo do Taklamakan ou pelas altas montanhas da Ásia Central.
- Cidades importantes: Xi’an (Chang’an) como ponto de partida na China; Kashgar como importante entroncamento na região de Tarim; Samarcanda e Bucara como centros culturais e comerciais na Transoxânia; Cidades como Merv, Turfan, Dunhuang, etc.
- Comércio, tecnologia e intercâmbio cultural: Comércio de mercadorias: seda da China, especiarias, pedras preciosas, artigos de vidro, canela, livros religiosos, porcelana, etc., em troca de ouro, prata, cavalos, tecidos, etc.
- Inovações tecnológicas e culturais: Papel: a partir da China, a produção de papel espalhou-se pela Ásia Central e depois pelo mundo islâmico. Manuscritos e traduções foram disseminados ao longo dessas rotas. Pólvora negra, impressão de livros, bússola e outras tecnologias foram transmitidas indiretamente ou influenciaram desenvolvimentos ao longo das rotas (a pólvora negra e a bússola são originárias da China, e a sua disseminação foi facilitada pelos contactos).
- Religiões e ideias: O budismo espalhou-se do subcontinente indiano pela Ásia Central até à China. Além disso, o maniqueísmo, os cristãos nestorianos, o zoroastrismo e, mais tarde, o islamismo espalharam-se ao longo da Rota da Seda.
A Iniciativa Belt and Road (Nova Rota da Seda): conceito e rotas
A Iniciativa Belt and Road foi lançada em 2013 pelo presidente da China, Xi Jinping. O seu objetivo é expandir uma rede global de transportes, energia e comércio que ligue a Ásia, a Europa, a África e, em parte, também a América Latina. O governo chinês fala de uma «cooperação vantajosa para todas as partes», mas os críticos vêem nela um meio de expandir o poder e a influência da China.
- A iniciativa abrange vários corredores terrestres e marítimos que, juntos, formam uma rede amplamente ramificada: rotas terrestres (Belt): o Corredor China-Ásia Central-Europa Ocidental, que atravessa o Cazaquistão, a Rússia e a Bielorrússia até à Europa, e o Corredor Económico China-Paquistão (CPEC), que liga o oeste da China ao Mar Arábico através do porto de Gwadar. Além disso, o Corredor China-Indochina através do Laos, Vietname e Tailândia e uma rota através do Irão e Turquia em direção ao Mediterrâneo.
- Rota marítima (estrada): A Rota Marítima da Seda do Século XXI segue ao longo da costa do sudeste asiático, atravessa o Oceano Índico, passa por África e chega ao Mediterrâneo.
- Desde o início do projeto, foram prometidos investimentos globais no valor de mais de 1,3 biliões de dólares americanos (em meados de 2025). O foco está na construção de portos, linhas ferroviárias, estradas, instalações energéticas e infraestruturas digitais.
Oportunidades e desafios da Nova Rota da Seda
Para a China, a iniciativa significa uma garantia estratégica das rotas comerciais e dos recursos, mas também a consolidação do seu estatuto como potência económica global. A Alemanha e a UE poderiam beneficiar das novas rotas, por exemplo, através de ligações de transporte mais rápidas, acesso a novos mercados e cooperações no setor energético. No entanto, existem pontos críticos evidentes:
- Endividamento e dependência: países como o Sri Lanka ou o Quénia tiveram de ceder infraestruturas à China ou contrair dívidas de longo prazo.
- Falta de transparência: muitos contratos permanecem confidenciais, o que aumenta a desconfiança em relação às motivações da China.
- Tensões geopolíticas: Os EUA e parte da UE veem a BRI como uma tentativa de estabelecer uma ordem económica mundial alternativa sob a liderança chinesa.
- Consequências ecológicas e sociais: Grandes projetos ameaçam, em parte, ecossistemas e comunidades locais.
- Apesar destes desafios, a BRI continua a ser um motor central do desenvolvimento global de infraestruturas, especialmente em regiões onde até agora pouco se investiu.
Comparação entre a antiga e a nova Rota da Seda – simbolismo e perspetivas futuras
A antiga e a nova Rota da Seda estão separadas por mais de 2000 anos, mas ainda assim estão ligadas pela mesma ideia: o intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente. A diferença reside principalmente nos meios, nos objetivos e na amplitude do intercâmbio.
- A antiga Rota da Seda era principalmente uma rede de rotas de caravanas que ligava o comércio, as religiões, as culturas e as tecnologias. O seu objetivo não era o poder, mas sim o intercâmbio de mercadorias como seda, especiarias, vidro e papel, bem como de ideias e crenças.
- Os intervenientes eram comerciantes, peregrinos, estudiosos e governantes locais, que possibilitavam o intercâmbio. Estendia-se da China à Ásia Central e à Europa, tendo grande importância cultural e económica.
- A Nova Rota da Seda, por outro lado, é um grande projeto moderno, controlado pelo Estado, que está a ser implementado pela China desde 2013 sob o nome de Belt and Road Initiative. O foco está nas infraestruturas, rotas comerciais, projetos energéticos e redes digitais que devem ligar a Ásia, África, Europa e, em parte, a América Latina. O objetivo não é apenas a interligação económica, mas também o fortalecimento da influência geopolítica da China.
- Enquanto a antiga Rota da Seda representava principalmente o intercâmbio mútuo e o enriquecimento cultural, a nova iniciativa persegue interesses económicos e estratégicos claros. Ela abre oportunidades para países como a Alemanha e a UE através de vias de transporte mais rápidas, novos mercados e cooperações energéticas. Ao mesmo tempo, existem riscos: endividamento, dependência, falta de transparência e desafios ecológicos e sociais.
- No entanto, ambas as épocas da Rota da Seda mostram como o comércio, a infraestrutura e o intercâmbio cultural estão intimamente ligados. O futuro da Nova Rota da Seda dependerá de se os benefícios económicos, as parcerias justas e o desenvolvimento sustentável forem colocados no centro das atenções – tal como aconteceu com a antiga Rota da Seda, que ligou o Oriente e o Ocidente durante séculos.
